quarta-feira, 9 de agosto de 2017

* Moto carburada x Cordilheira dos Andes

          Quando os times brasileiros partem para o Peru, Bolívia ou Equador pela Libertadores ou outro torneio qualquer, seus médicos, preparadores físicos e técnicos sempre têm preocupação com o "Mal de Soroche" ou "mal das montanhas". Dependendo do atleta, o rendimento pode ser comprometido pela falta de oxigênio e a dificuldade de respirar, fenômeno comum acima dos 2.400 metros de altitude.

          Os atletas estão numa competição, mas nós estamos lá por vontade própria e amor ao motociclismo, a cidade de Cusco por exemplo esta a mais de 3.400 metros acima do nível do mar. Uma dica que me passara quando estava numa viagem em 2013 é que se acaso começasse a passar mal, teria que deitar ao chão, pois o oxigênio estaria concentrado em até 0,50 cm de altura. Minha esposa não costuma passar mal, brinco com ela dizendo que ela esta mais próxima desse oxigênio.

           Bom, se essa altitude traz essa situação para o corpo humano, traria ela também para carros e motocicletas, a ponto de fazer muita gente desistir da viagem?

          As motos injetadas recebem informações da centralina quanto à pressão barométrica e disponibiliza a quantidade necessária de combustível para que o motor tenha o melhor desempenho possível. Ainda assim, acontece da moto pedir constantemente a redução de marchas, em alguns casos até chegar à primeira. 

          Com a altitude, o volume de ar é o mesmo, mas a densidade é menor. logo, ele continua mandando o mesmo volume de gasolina, mas com menos oxigênio para queimar, a mistura fica  mais rica.

Juan Ulloa com sua 200 cc
          A perda de potência na altitude é devido principalmente à reduzida massa de ar que entra no motor. Para muitos motociclistas vale tudo para chegar até lá e para injetar mais oxigênio na câmara de combustão alguns chegam a tirar o filtro de ar, trocam o giclê do carburador e até fecham um pouco a torneira de combustível para equalizar a mistura ar/combustível. 

          Bom, na verdade motos carburadas sempre andaram pelas cordilheiras, com certeza o rendimento é um pouco menor que as injetadas, muitos relatam que suas velocidades caem para 50 ou 60 km por hora em determinados pontos, a cordilheira em alguns pontos possui curvas muito fechadas e em muitas delas nem as injetadas escapam de jogar a primeira marcha, é na retomada de velocidade que o bicho pega.


          Outro fator que  faz nossas motos tupiniquins andarem um pouco mais lenta também esta na mistura de combustível, nossos motores estão preparados para uma determinada mistura com etanol, essa mistura lá fora é diferente.

Juan Esteban
          Em 2016 recebemos o  casal de colombiano Juan Esteban e Carol, eles estão viajando toda a  América Latina numa carburada de 250 cc e em 2017 recebemos o também colombiano Juan Ulloa que esta a meses na estrada numa carburada de 200 cc. Segundo Juan Ulloa, o trecho mais criticado foi em Potosi, na Bolivia, onde a moto "pedia mais ar", no restante foi tudo bem. A cidade de Potosi fica a 4.070 de altitude em relação ao nível do mar.

          Relato de Juan Esteban: "Nosotros estuvimos a 5.000 metros sobre el nivel del mar en Perú, para que la moto funcione mejor se usa gasolina con bajo octanagem y se retira el filtro de aire. Por cada 1.000 metros de altura la moto pierde un promedio del 10% de fuerza".


          Para uma viagem como essa, torna-se necessário saber "mexer" um pouco na mecânica de sua moto, caso seja necessário usar alguns dos artifícios mencionados acima. Vale lembrar que antes de existirem as injetadas, as carburadas já davam seus roles pelos Andes.

Juan e Carol em sua passagem por Curitiba

11 comentários:

  1. Excelente publicação meu amigo. Parabéns pelo compartilhamento. Tenho uma Bandit 600S 2005 (carburada) e suas considerações na publicação me fizeram repensar. Grande abraço e excelentes estradas!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu André, eu citei apenas 2 amigos colombianos, mas há uns 2 anos atras, um conhecido de Facebook saiu de Manaus e subiu até Machu Picchu - tambem estava com receio - mas foi e curtiu a viagem pra caramba.

      Excluir
    2. recentemente fui para peru com minha super tenere 750, tive que tirar os filtros na subida, pipocava igual vela queimada, chegando em cusco, abri 2 carburadores e coloquei 2 fios de cobre ( aquele branco duplo energia ) tirei 2 filamentos e coloquei na passagem gicles, diminuindo a vazao, deu certo, a moto funcionou e voltei ate em casa sem problemas, fica dica.

      Excluir
  2. Verdade,essa gente gosta de apavorar os outros,como voce falou motos carburadas e carros já andavam por estas bandas(não asfaltadas),bem antes das motos de Hoje.Claro que a moto pode falhar perder potencia, mas não para .

    ResponderExcluir
  3. Muito bom. Tive esse problema com minha Shadow 750. Cheguei andar sozinho acompanhado do carro de apoio. E uma experiencia e tando.

    ResponderExcluir
  4. Valido o seu comentario... Nunca rodei com moto injetada, as vezes que subi a cordillera acima de 5.000 m.s.n.m.o fiz com moto carburada. Senti falta de potencia. Resolvi em parte o problema trocando a agulla do carburador e uma das vezes coloquei cebola no filtro de ar isto por indicaçao de um piloto de off road Peruano que me deu essa dica.. Nao senti melhoras no comportamento da carburaçao mas fui pra frente abaixa velocidade e em marchas baixas, segunda e tercera..

    ResponderExcluir
  5. veículos com injeção e que tem sonda lambda (acho que quase todas motos injetadas) não tem este problema de enriquecer a mistura, mas a perda de potencia pode acontecer pois no final das contas vai ter menos ox.

    ResponderExcluir
  6. Fui de boas até o pacífico com minha trudinha 125 carburada, sem mexer em nada, apenas mantendo a torneirinha o mais próximo possível do off e com meia cebola cortada junto ao filtro de ar. Não é lenda, funciona mesmo

    ResponderExcluir
  7. Olá pessoal sou de Tupãssi -PR, agora em Julho de 2019 fizemos uma volta pelo Paso dos Libertadores e depois retornamos pelo Paso de São Francisco com duas Falcon 2007 (6000 km +-). Na ida não tivemos grandes problemas o Paso dos Libertadores (Mendoza à Los Andes) não é tão alto, agora o retorno de Copiapó à Fiambalá esse sim, é entre 1000 à 1500 metros mais alto, tivemos grandes problemas, os motores não tinham força e tivemos que ser ajudados pelo pessoal da concessionária que cuida da Ruta 31. Levaram nossas motos da aduana chilena para a aduana argentina. Foi uma experiencia nada recomendada, em primeira marcha queimando embreagem, ajudando empurrar com os pés, sofrendo com falta de ar, com rajadas de vento de 30 a 40 km/h e temperatura de -4° graus (medido com anemômetro). Mexemos no carburador mas sem resultado (falta de experiencia), as motos vieram a funcionar bem, depois de baixar para 3000 metros de altitude isso já estava a uns 70 km de Fiambalá. Recomendação, aprendam a mexer nesse dito carburador e evitem o inverno. Grande Abraço.

    ResponderExcluir
  8. Viajei para Machu Picchu com um amigo, com NX Falcon 2002 e outra 2005, ambas carburadas. Na altitude após Cochabamba, foi necessário substituir o gicle original número 148 pelo 110. Daí melhorou muito.

    ResponderExcluir